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segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Análise Crítica do Texto: «Dói-nos o espaço», de Arq. Luís Maria Rodrigues Baptista

Com a crescente evolução tecnológica somos constantemente bombardeados com produtos e equipamentos que nos ajudam a suportar a nossa existência. São estes produtos e equipamentos que enchem os nossos lares de conforto, tal como o próprio espaço arquitectónico. Ambos suportam ou auxiliam toda a nossa existência física e cultural. Mas será que suportam mesmo!? Ou somos forçados a pensar assim e assim é que deveria ser!? A maioria das pessoas (nomeadamente nos países ditos desenvolvidos), após a compra de uma habitação ou de um outro qualquer objecto, esquece-se dele passado algum tempo não lhe dando mais importância; não porque já não satisfaz a necessidade que o levou a comprar mas porque começou a fazer parte do nosso frenético quotidiano.

Dando como exemplo a televisão: será que nós não temos uma televisão porque crescemos a pensar que precisamos dela e porque na nossa geração passou a ser um acto cultural? Há alguns anos atrás não havia televisão e isto não quer dizer que não existisse conforto, pois não? Talvez se nunca tivéssemos visto televisão nunca sentiríamos necessidade de a ver. O mesmo se pode dizer dos telemóveis; hoje é quase uma necessidade intransigente. Alguém pensa sequer em não o ter? Qualquer miúdo de 6 ou 7 anos tem um!!! Porque lhe dá conforto? Ou porque os pais assim os podem controlar e assim ter uma sensação de conforto. Não questiono a sua utilidade mas sim o conforto que dá.

Ao nível do espaço arquitectónico poderá dizer-se que acontece o mesmo. Podemos ter um apartamento muito espaçoso com uma vista maravilhosa e excelentemente mobilado com o que de melhor existe e com tudo o que fomos educados a ter porque assim o entendemos. Ninguém foi educado ao nível da organização do espaço, fazemos o que culturalmente nos parece adequado e temos aquilo que os outros tinham e ainda o que aqueles têm, não nos questionando se realmente todo este conjunto nos dá conforto e, acima de tudo se nos identifica e particulariza entre a globalidade dos habitantes do mundo. Como costumo dizer somos todos habitantes do mundo e, se eu fosse nómada e passasse a minha vida a «viajar pela minha casa», o planeta não me iria sentir confortável!?

Na minha opinião, penso que isto se deve a uma questão cultural e ao medo de inovar por estarmos acomodados ao meio actual. Temos medo de encontrar novas formas de organização, de vivência, de habitat. Parece que receamos ter uma identidade própria que nos distingue uns dos outros. Damos demasiada importância àquilo que vimos e ao que os outros têm e não nos preocupamos com aquilo que realmente nos satisfaz e dá conforto.

Somos bombardeados diariamente pelos meios de informação e comunicação com padrões e modos de organização tão enraizados e dogmáticos que nem nos questionamos porque o fizemos…Tenho a certeza que se cada um de nós tivesse a capacidade de “formatar a sua memória”, há muito que teríamos outras possibilidades e novas maneiras de explorar os nossos “espaços arquitectónicos” e assim melhorar o nosso conforto, seja ele visual, físico, metafísico ou psicológico.

Eu diria que a liberdade e a capacidade de abstracção (poderei dizer intuição!?) serão possivelmente as melhores formas de criação de novos produtos, ambientes e novos habitats mais confortáveis a todos os níveis.